Coronavírus

Vacina da J&J. Bruxelas exorta Estados-membros a seguirem recomendação da EMA

Comissária europeia da Saúde defendeu no Twitter que os benefícios da vacina da Johnson & Johnson superam os “raros efeitos secundários”, desafiando os países a fazer o que diz o regulador europeu. Itália não deverá seguir a recomendação à risca. Johnson & Johnson vai retomar entregas à UE

Paula Freitas Ferreira e Susana Frexes

A comissária europeia da Saúde deixou esta terça-feira um "recado" no Twitter para que os Estados-Membros sigam a recomendação dos especialistas europeus, referindo-se à conclusão do comité de segurança (PRAC) da Agência Europeia de Medicamentos (EMA), que esta terça-feira manteve a confiança na administração da vacina da Johnson & Johnson (J&J), reiterando os benefícios da mesma apesar da "possível ligação" entre os casos raros de coágulos sanguíneos e esta vacina.

"Os benefícios da vacina Johnson & Johnson superam os riscos de efeitos secundários muito raros e incomuns", escreveu Stella Kyriakides, a acompanhar a partilha de um tweet da EMA com as conclusões da análise do PRAC divulgadas também esta terça-feira.

"Exorto os Estados-membros a seguirem a opinião dos nossos especialistas. A vacinação salva vidas", apelou a responsável.

No entanto não é certo que os Estados-membros venham de facto a seguir na íntegra a recomendação do regulador, tal como não o fizeram no caso da AstraZeneca.

O “Corriere della Sera” avança que em Itália só os maiores de 60 anos é que vão ser vacinados com a dose da Janssen. Fonte europeia confirmou isso mesmo ao Expresso: a autoridade nacional de saúde esteve esta terça-feira de tarde em reunião para decidir se a vacina será administrada a todos os adultos mas "é quase certo que será colocado um limite de idade para a vacina da J&J: só os maiores de 60 anos a vão receber", tal como já acontece com a vacina da AstraZeneca no país. Recorde-se que esta vacina também revelou produzir efeitos secundários graves semelhantes aos da Janssen, alguns fatais.

Distribuição vai ser retomada, mas países é que decidem

No seguimento da revisão da EMA, a farmacêutica anunciou que vai retomar a distribuição de doses à UE e é isso mesmo que espera o vice-presidente da Comissão Europeia, Maroš Šefčovič.

"Estou certo de que as entregas vão ser retomadas e assim que estiverem nos Estados-membros caberá a estes, de acordo com a estratégia de vacinação de cada um, decidir quando e como vão começar a vacinação", adiantou no final de uma videoconferência de ministros dos Assuntos Europeus.

Questionado sobre se temia abordagem descoordenada dos Estados-membros em relação à administração da vacina da J&J - tal como acontece com a da AstraZeneca -, Šefčovič preferiu apenas reforçar o apelo à "boa coordenação", deixando claro que isso está nas mãos dos Governos e não de Bruxelas.

Apesar dos sucessivos apelos à coordenação - quer seja na vacinação, quer seja noutra medidas relacionadas com a covid19 -, os Estados-membros nem sempre se têm mostrado alinhados, nem entre si nem com o regulador. Por exemplo, apesar de a EMA recomendar a vacina da AstraZeneca para maiores de 18, países como Portugal, Itália ou Alemanha administram-na só a maiores de 60, França a maiores de 55, Grécia a maiores de 30 e a Dinamarca suspendeu de vez a vacina anglo-sueca.

As próximas horas e dias devem demonstrar se a abordagem nacional à vacina da Johnson & Johnson vai ser a mesma que a dada à AstraZeneca, tendo em conta que há semelhanças entre os eventos adversos reportados.

Já a J&J continua "comprometida a entregar 200 milhões de doses da vacina contra a covid-19 à União Europeia, Noruega e Islândia", pode ler-se num comunicado. No mesmo documento, a farmacêutica dá conta de que vai "atualizar as características do produto" com as informações sobre os raros efeitos adversos, tal como foi agora recomendado pela EMA, sublinhando ainda que o regulador europeu mantém uma avaliação "positiva" do risco-benefício da vacina.

Na sua análise, o comité de segurança da EMA considerou todas as provas disponíveis, incluindo os oito episódios reportados nos Estados Unidos - um dos quais fatal - que mencionam casos graves de coágulos sanguíneos incomuns associados a níveis baixos de plaquetas sanguíneas.

Todos os casos ocorreram em pessoas com menos de 60 anos de idade nas três semanas após a vacinação, na sua maioria mulheres. No entanto, o regulador europeu considerou em comunicado que com base na informação disponível "não foram confirmados fatores específicos de risco".

A EMA lembrou também que os casos analisados são "muito semelhantes aos casos que ocorreram com a vacina desenvolvida pela AstraZeneca". E tal como para a essa vacina, também para a J&J a EMA reitera que a avaliação da vacina se mantém "positiva", sendo que os benefícios superam os riscos. As duas vacinas estão recomendadas na União Europeia para maiores de 18 anos.

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