Economia

Portugueses pagam mil milhões de euros para terem seguro de saúde

17 fevereiro 2022 18:18

Foto: Getty Images

3,3 milhões de portugueses têm apólices de proteção na doença

17 fevereiro 2022 18:18

Em onze anos, o mercado dos seguros de saúde em Portugal duplicou, superando os mil milhões de euros em 2021, um valor que cobre o risco de doença de 3,3 milhões de beneficiários (estimativa para 2021 com base em dados de junho desse ano), mais um milhão de pessoas do que em 2010, indicam dados da Associação Portuguesa de Seguradores (APS).

Este montante soma-se aos impostos que os portugueses pagam para terem acesso ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), ou seja, é um encargo extra para acautelar acesso a cuidados médicos. Segundo a última ‘Conta Satélite da Saúde’ do Instituto Nacional de Saúde, a despesa corrente das famílias, entre 2016-2019, aumentou 7,5%, “reforçando o crescimento observado nos últimos anos”. E foi nos hospitais privados onde o gasto dos portugueses mais se avolumou, com uma subida de 17,2%.

“O crescimento dos seguros de saúde tem sido sustentado nos últimos anos e a situação de pandemia terá levado a que ainda mais portugueses dessem prioridade à cobertura em saúde”, aponta Óscar Gaspar, presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP), acrescentando que outro motivo para a atração dos portugueses por estes produtos reside “na existência de uma ampla oferta mas também reconhecemos que essa é a via pela qual há mais portugueses com acesso direto aos hospitais privados”. Em 2019 existiam 2.779.507 beneficiários de seguros de saúde e, no ano seguinte, passaram a existir 3.048.552.

A pandemia deu uma ajuda, mas não explica tudo. O crescimento do ramo saúde foi, de facto, mais acentuado no primeiro ano do surto de SARS-CoV-2. Logo surgiram coberturas adicionais para responder ao risco de infeção pelo novo coronavírus e para muitas pessoas poderá ter funcionado como incentivo para subscrever um contrato com uma companhia. Em 2020, as receitas com prémios cresceram, em termos homólogos, 8,2% para 949 milhões de euros. No entanto, as seguradoras tiveram que desembolsar 685 milhões de euros em sinistros e, depois das despesas, o lucro foi de 110 milhões de euros, quando em 2019 havia sido de 44 milhões de euros.

Mas, na realidade, o que os seguros de saúde oferecem é o acesso rápido a cuidados de saúde, o que faz depreender que haverá uma menor confiança na capacidade de assistência do SNS.

O presidente da APHP revela que, atualmente, “os hospitais privados são responsáveis por cerca de 30% das cirurgias realizadas no país e por cerca de 37% do total de consultas de especialidade hospitalar”. E reforça que são “hospitais globais” e que há cada vez mais unidades “a dar resposta na medicina geral e familiar assim como tem havido uma clara diferenciação em termos oncológicos e cirúrgicos, além de toda a gama de meios de diagnóstico”.

Porquê ter um seguro de saúde existido o SNS?

“Dos estudos que conhecemos há duas razões que vêm sempre no topo da justificação para subscrever um seguro de saúde: acesso e liberdade de escolha”, indica Óscar Gaspar. Ou seja, adianta o responsável, “um cidadão tem um seguro de saúde para poder ter uma consulta de especialidade no tempo mais adequado, realizar os exames rapidamente e, em caso de necessidade, ser logo operado”.

De acordo com os dados da APS foi, sobretudo, a partir de 2015 que o sector dos seguros de saúde começou a crescer de forma mais exuberante. Nesse ano valia um pouco mais de 633 milhões de euros e, dois anos depois, em 2017, já estava acima dos 751 milhões de euros.

Seguros de saúde valem mil milhões de euros



As apólices de grupo, ou seja, os contratos feitos por empresas que concedem o seguro de saúde aos seus funcionários sempre sustentaram e alimentaram o sector. Porém, o expressivo crescimento de 87% no número de contratos individuais colocou este segmento quase em pé de igualdade com as empresas. Em 2010 existiam cerca de 775 mil pessoas com um seguro de saúde individual, contra os mais de 1,8 milhões de beneficiários via a entidade patronal. Em 2021, o panorama equilibrou-se com 1,9 milhões de beneficiários através de apólices de grupos e 1,4 milhões individuais.

3 milhões beneficiam de proteção privada na doença



A Fidelidade, que tem a Multicare, continua a liderar o ranking dos seguros de saúde, com 36,3% do mercado, seguida da Ocidental Seguros, com a Médis que lhe dá 23% de quota e da Generali, que comercializa os produtos AdvanCare e tem uma fatia de 12,3%, de acordo com o relatório ‘Prémios de Seguro Direto da Atividade Seguradora’, publicado recentemente pela Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões.

Óscar Gaspar antecipa que este mercado “vai continuar e alargar-se porque, em termos dos seguros de grupo, ainda há caminho a fazer para permitir que mais PME possam disponibilizar esse benefício aos colaboradores”. O presidente da APHP também sugere que, no caso das apólices individuais, o prémio “possa ser considerado em termos de IRS”.