A cerimónia é só em agosto, mas Ursula von der Leyen já decidiu que não marcará presença nas celebrações dos 30 anos da independência da Ucrânia. A notícia da resposta negativa foi avançada esta quinta-feira pela publicação POLITICO, que dava conta também de uma quebra protocolar: em vez de ser a presidente da Comissão a responder ao presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, como manda o protocolo, foi o seu chefe de gabinete a fazê-lo e a assinar a missiva, justificando que "infelizmente" a alemã não poderia comparecer devido "a uma agenda particularmente preenchida".
Para além das convenções protocolares, a resposta negativa de Von der Leyen levanta questões políticas, numa altura em que as tropas russas marcam forte presença junto à fronteira com a Ucrânia.
Questionada sobre a decisão da presidente, a Comissão rejeita que esteja em causa o apoio de Bruxelas à Ucrânia. Admite que houve uma primeira resposta preparada pelo chefe de gabinete, Björn Seibert, mas garante que não será enviada para Kiev e que a presidente vai responder e assinar uma nova missiva a declinar o convite, afastando a imagem de que estaria a retirar importância ao convite ou a desconsiderar o presidente ucraniano.
"A carta ainda não foi recebida pelas autoridades ucranianas. A própria presidente assinará uma resposta ao Presidente Zelensky", assegurou o porta-voz Eric Mamer.
Bruxelas desvaloriza o episódio, mas não justifica porque é que em pleno agosto, quando as instituições estão a meio gás ou de férias, a presidente não pode participar nas cerimónias na Ucrânia, adiantando que a Comissão será convenientemente representada. Por outro lado, rejeita qualquer leitura política.
"A Comissão e a UE estão lado a lado com a Ucrânia. A presidente espera reiterar o seu apoio à Ucrânia durante uma próxima reunião com o Presidente Zelensky", diz Mamer, algo que poderá até acontecer antes de agosto.
Michel vai representar a UE
O episódio surge depois do incidente protocolar em Ancara - conhecido como sofagate - em que Ursula von der Leyen não teve direito a cadeira ao lado dos presidentes do Conselho Europeu e da Turquia. Agora, parece ter estado perto de protagonizar também uma falha protocolar, uma vez que as respostas a presidentes e chefes de governo têm sempre de ser assinadas por ela e não por assistentes ou chefes de gabinete.
A alemã declinou o convite, mas Charles Michel marcará presença na Ucrânia, onde representará a UE, não só nas cerimónias dos 30 anos de independência do país, mas também numa cimeira sobre a Crimeia que decorre na véspera e para a qual Von der Leyen também foi convidada.
Esta quinta-feira, Michel voltou a agradecer o convite - que já tinha aceitado quando esteve na Ucrânia em março - durante uma conversa telefónica com Zelenskyy.
"O Presidente Charles Michel expressou profunda preocupação em relação à grande concentração de forças militares russas em curso na fronteira da Ucrânia e na Crimeia, ilegalmente anexada", pode ler-se no comunicado sobre o telefonema, onde é reforçado que tais "movimentos militares em larga escala representam atividades ameaçadoras e desestabilizadoras".
O Presidente do Conselho Europeu sublinhou ainda "o apoio inabalável da UE à independência, soberania e integridade territorial da Ucrânia nas suas fronteiras internacionalmente reconhecidas"
A questão da Ucrânia está na agenda da videoconferência de ministros dos Negócios Estrangeiros que decorre esta segunda-feira.
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