Opinião

Finalmente, o manto diáfano dos cardeais

12 agosto 2022 0:00

Os abusadores são criminosos, mas os cúmplices do silenciamento é que têm de responder publicamente

12 agosto 2022 0:00

A autoridade clerical, a impunidade garantida pelo segredo e a proteção hierárquica de quem se habituou a ser um Estado para lá do Estado podem ajudar a explicar a dimensão dos abusos sexuais de menores na Igreja Católica. Talvez o celibato e a abstinência sexual dos padres não ajudem, em alguns casos, a formar pessoas psicológica e moralmente saudáveis. Talvez a abertura do sacerdócio às mulheres permitisse criar relações de poder menos propícias aos abusadores. Mas os católicos que se sentem chocados com estas revelações têm, antes de tudo, de pôr a mão na sua consciência. Nada disto é surpresa. Porque o permitiram durante tanto tempo? Porque tiveram os denunciantes, fossem vítimas, familiares ou outros padres, de lidar com a indiferença ou incompreensão das suas comunidades? Com tanto ativismo para reprimir o sexo consentido entre adultos livres e impedir que se fale de sexualidade na escola, porque não se mobilizaram mais católicos para protegerem as crianças do abuso na sua própria Igreja?