Política

O Chega a falar de si mesmo. A fraude de um livro, por Daniel Oliveira

2 agosto 2020 9:36

nuno botelho

Há uma coisa que une quase todos os autores que vieram a público indignar-se com as críticas que foram feitas a Riccardo Marchi: reconhecem que não leram o seu livro. Um livro que não é mais do que o Chega a falar de si mesmo. Que merece ser criticado, porque a crítica, individual ou coletiva, analítica ou indignada, nunca é uma forma de censura

2 agosto 2020 9:36

Riccardo Marchi é académico e especialista em extrema-direita ou, como se apresenta no livro, em “radicalismo de direita”. Decidiu escrever um livro sobre o Chega. No início de “A Nova Direita Anti-sistema — O Caso do Chega” (Edições 70) refere-se a este trabalho como “uma investigação aprofundada”. Marchi não é jornalista, por isso depreende-se que se trata de um ensaio académico. E só pode ser lido assim.

Perante as suas entrevistas, um conjunto de académicos assinou um texto em que acusava Marchi de branqueamento do Chega. Logo depois, vários colunistas vieram rasgar as vestes perante mais este ato censório. Não estiveram especialmente ativos no caso da Nova SBE, em que mecenas de uma faculdade pressionaram para que uma académica deixasse de ser associada à instituição com a sua assinatura. Uma ameaça plausível de censura, por os seus autores terem poder efetivo para a exercer. Tudo isto segue uma espécie de coreografia em que cada um acha que cumpre o seu papel. A esquerda indigna-se em grupo contra o que poderia ser individualmente contestado, a direita indigna-se individualmente por haver quem se atreva a contestar o que ela diz.