Política

Costa diz que produção de hidrogénio verde vai ser a nova "reindustrialização"

Primeiro-ministro português, António Costa
Primeiro-ministro português, António Costa
PIROSCHKA VAN DE WOUW/REUTERS

Primeiro-ministro continua a promover, no terreno, os projetos financiados pelos milhões da bazuca europeia. Questionado sobre o caso polémico da ex-secretária de Estado do Turismo, Costa nada disse. À sua espera tinha um protesto de professores, a quem Costa garantiu que o objetivo de mexer nas carreiras é melhorar o vínculo laboral e não “municipalizar” as escolas

Costa diz que produção de hidrogénio verde vai ser a nova "reindustrialização"

Rita Dinis

Jornalista

Os casos complicados que agitam o Governo ficam à margem. António Costa está apostado em seguir o plano que traçou para o arranque do novo ano à risca: mostrar, no terreno, os projetos que estão a ser financiados pelo PRR e mostrar como o investimento feito vai trazer retorno à economia nacional. Foi o que fez esta terça-feira, em Benavente, onde visitou uma entidade produtora de hidrogénio verde e, à saída, recusou responder às perguntas dos jornalistas sobre o caso da ex-secretária de Estado do Turismo que vai agora trabalhar para uma empresa que teve benefícios debaixo da sua tutela.

O consórcio visitado em Benavente faz parte de uma cadeia de produção de hidrogénio verde que recebeu uma fatia de investimento da ‘bazuca’ de Bruxelas e que, segundo Costa, vai ser um “catalisador para a criação de uma nova fileira industrial” em Portugal. Isso, disse, vai contribuir para aumentar a produção e exportação de energia verde, reduzindo a dependência do país e melhorando o PIB nacional.

Sobre a antiga secretária de Estado, nem uma palavra. À saída das instalações da Fusion-Fuel Portugal, António Costa tinha um protesto de dezenas de professores à sua espera - numa semana de greves por causa das mudanças no processo de colocações. Aos jornalistas, o primeiro-ministro recusou que se tratasse de uma “municipalização” das escolas e procurou explicar que o objetivo do Governo é acabar com “o número muito elevado de professores que vão sendo contratados em anos sucessivos, e que andam com a casa às costas” sem qualquer vínculo laboral estável. “Temos de encontrar forma de os integrar na carreira”, disse, admitindo contudo que “o passo não pode ser maior do que a perna”.

Questionado sobre o porquê de os professores não estarem satisfeitos, com os sindicatos a marcarem greves para estas semanas, António Costa atribuiu a causa a alguma “desinformação” que tem circulado em grupos de Whatsapp. “Por ventura, a comunicação não tem sido totalmente direta, e houve uma contra-informação grande através de um Whatsapp, que era mentira, mas teve impacto”, disse, sublinhando que, até por motivos familiares, sabe que a insatisfação dos professores é grande e acumulada ao longo dos anos - sendo que só em 2018 as carreiras foram descongeladas.

Em todo o caso, garantiu o primeiro-ministro, o objetivo é cumprir a trajetória de criação de carreiras para os professores, tal como para médicos, enfermeiros, forças de segurança e função pública. Isto, sempre com os olhos na trajetória de redução de impostos (IRS) e de redução da dívida, lembrou. “Temos de viver com os recursos de que o país dispõe”, disse, invocando o velho lema das “contas certas”.

O caminho para a reindustrialização

Mas o objetivo da visita a Benavente era mostrar um dos consórcios que se candidatou aos fundos europeus das agendas mobilizadoras que, no seu conjunto, vão permitir “criar 18 mil postos de trabalho” e vão apontar para uma criação de novos serviços na ordem de valores dos 8,7 mil milhões de euros - “quatro vezes mais o investimento que está a ser feito pelo PRR”.

No entender do primeiro-ministro, a grande mais valia dos projetos das “agendas mobilizadoras” que foram a concurso é que “todas têm de se propor a realizar produtos ou serviços novos, o que implica uma grande investigação e criação de emprego qualificado”, disse, procurando demonstrar as vantagens para a economia nacional dos investimentos feitos no âmbito do PRR.

No caso da Fusion-Fuel Portugal, Costa lembra que se trata de uma unidade que estava encerrada há 10 anos, em Benvente, que produzia estruturas metálicas para construção civil, e que agora se reinventou, dedicando-se a produzir tecnologia sofisticada para a produção de hidrogénio verde. “Insere-se num consórcio de cadeia de valores” que começa em Benavente, passa pelo Sabugo e termina em Sines, onde se instalam as componentes para produção de hidrogénio e onde se faz depois a exportação.

“Não chegamos aqui por acaso: definimos a tempo e horas uma estratégia nacional para o hidrogénio, e na altura fomos muito criticados, mas em boa hora o fizemos. Desde o dia 24 de fevereiro (início da guerra na Ucrânia) que ninguém tem dúvidas de que a Europa tem de produzir energia”, disse, apontando para o objetivo de tornar Portugal competitivo nesta área. “Não está em causa apenas a componente ambiental e energética, a produção de hidrogénio verde é um catalisador para a criação de uma nova fileira industrial e para a reindustrialização do país”, disse.

Ainda à margem da visita, o primeiro-ministro disse ainda, aos jornalistas, que o Presidente da República “já teve a amabilidade” de responder à carta que lhe endereçou propondo um mecanismo para garantir transparência na nomeação de membros para o Governo. “O senhor Presidente da República já teve a amabilidade de me responder e estamos a trabalhar”, disse António Costa aos jornalistas, em Benavente, à saída da apresentação do projeto financiado pelo PRR para a produção de hidrogénio verde, no âmbito do consórcio Sines Green Hydrogen Valley.


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