António Costa afirmou esta quarta-feira que por detrás de cada um dos incêndios existe um “problema estrutural”. O primeiro-ministro explicou que cada um dos fogos que lavra em Portugal começou “porque houve uma mão humana que deliberadamente ou por descuido que provocou aquele incêndio”.

“Grande parte do nosso território é uma grande mancha florestal e grande parte, infelizmente, está hoje abandonada”, lamentou o primeiro-ministro, que depois relacionou o abandono das florestas com “a hiperfragmentação da propriedade”, que foi assim “perdendo valor económico”.

António Costa referiu que, de geração em geração, “as propriedades foram ficando mais pequenas e cada vez mais ao abandono”. “Muitas das propriedades já não tem um senhor que vive na terra, que sabe onde está o seu pinhal, que está preocupado se os filhos vão herdar um património”, indicou.

Em Vila do Rei, o primeiro-ministro disse que propriedades de pequena dimensão “muito dificilmente” geram o rendimento económico que justifique o cuidado com aqueles terrenos. “Em 2017, o país compreendeu que não basta investir na Proteção Civil, nos meios aéreos, nos equipamentos para bombeiros. Não basta investir na prevenção por parte dos cidadãos. Tudo isto é essencial, mas não basta”, sustentou.

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Assim sendo, António Costa defendeu que é necessário “reintroduzir riqueza na floresta para que esta deixa de ser uma ameaça mas um ativo”. Para tal, tem se de “atacar a causa estrutural, “ir à raiz do problema”. “E onde está a raiz do problema? A raiz do problema está na necessidade que temos de cada uma das pessoas saber do que é proprietária, de todos saberem do que é que cada um é proprietário para ver como, em conjunto ou individualmente, podem ter aquilo que os bisavós, os avós, os pais trabalharam para eles poderem ter uma fonte de rendimento e não uma fonte de problemas”, sublinhou.

Para que isso aconteça, António Costa considerou fundamental completar o cadastro das propriedades. “Sei que é uma tarefa muito difícil. O cadastro parou no início do século XX, mais ou menos logo a norte do Tejo e nas zonas Centro e Norte ficou por fazer. E nem a ditadura teve coragem de fazer o cadastro porque havia a ideia de que, se fizéssemos o cadastro, as pessoas tinham que passar a pagar impostos. Esse é um problema que esta resolvido. Ninguém vai pagar impostos por fazer o cadastro.”

Além disso, António Costa sinalizou ainda que o “país está a viver um período de risco máximo de incêndio. Infelizmente, muitos bombeiros e a Proteção Civil estão a combater as chamas. É a prioridade hoje, amanhã e nos próximos dias, apagar as chamas. Mas não podemos esquecer que há um problema estrutural atrás dos incêndios”.