Parent

procriacao e parentalidade em contexto de baixa fecundidade mudanca familiar e crise economica

[Conteúdo original de Cunha, Vanessa (2019). PARENT – Procriação e Parentalidade em contexto de baixa fecundidade, mudança familiar e crise económica. Life Research Group Blog, ICS-Lisboa, https://liferesearchgroup.wordpress.com/2019/10/24 24 outubro (Consultado a 30.10.2019).]

Período de Execução: 1 de outubro de 2018 / 30 de setembro de 2022

O projeto PARENT pretende apreender o impacto da crise económica e dos novos valores da parentalidade nas perspetivas e nas práticas procriativas em Portugal[1]. Tem como ponto de partida a severa queda da fecundidade durante a recente recessão, que acentuou o persistente declínio da fecundidade das últimas décadas, e as suas consequências para pais, famílias e sociedade portuguesa no seu conjunto.

Apesar do relativo reconhecimento público destas transformações demográficas e dos seus impactos a longo prazo, pouco se sabe acerca das representações e das experiências parentais atuais, do modo como são moldadas e condicionadas, e as expetativas que pais e mães acalentam relativamente às políticas de apoio às famílias. Por outro lado, emergiram perspetivas pró-natalistas e de suporte à parentalidade sem um debate inclusivo e informado sobre a formulação de políticas, pelo que é crucial a pesquisa produzir conhecimento sobre as coortes de nascimento e os contextos sociais mais afetados pelo declínio da fecundidade, assim como contribuir para a consciencialização pública destas questões, nomeadamente por parte de decisores políticos e grupos de interesse.

 

 

Imagem de Jonathan Borba (Unsplash.com)

Descrição do projeto

Figura 1 – Índice Sintético de Fecundidade (ISF) – Portugal, 2000-2017

Fonte: PORDATA / INE (elaboração própria)

Com o intuito de ampliar o estado da arte e o conhecimento sobre as representações e as experiências parentais atuais, o projeto sustenta-se em três campos do conhecimento – sociologia, demografia e política social; combina as abordagens teóricas estruturalista e do curso de vida; e propõe articular três objetivos:

O primeiro objetivo consiste em avaliar o impacto da crise económica e das mudanças familiares nas representações, decisões e práticas procriativas e parentais de dois grupos de coortes: um, dos indivíduos que nasceram em 1970-74; e outro, dos que nasceram em 1980-84. Estas coortes foram expostas à crise em diferentes momentos do seu curso de vida e anos e em diferentes idades de formação familiar.

As coortes dos anos setenta experienciaram a deterioração das condições de vida (desemprego, instabilidade laboral, perda de rendimento) em meados da terceira década e início da quarta década de vida, colocando em risco intenções reprodutivas tardias, enquanto as coortes dos anos oitenta foram confrontadas com a crise numa etapa-chave, a transição para a vida adulta, dificultando a autonomização económica e mesmo a formação familiar destes jovens adultos.

 

O segundo objetivo consiste em apreender o modo como diferentes contextos socioestruturais estão a matizar a procriação e a parentalidade nos dois grupos de coortes. Os comportamentos reprodutivos, à primeira vista privados e explicados por ideais e preferências individuais e conjugais, são influenciados por condições sociais a nível macro que os balizam para lá da vontade dos indivíduos e dos efeitos do curso vida.

As atitudes de pais e mães são condicionadas por estruturas de oportunidade mais amplas, relacionadas com contextos socioeconomicos específicos também afetados pela crise. Por exemplo, durante a última década adensaram-se as assimetrias regionais nos níveis de fecundidade, com um declínio generalizado, mas muito intenso em algumas regiões do país (interior norte e centro e regiões autónomas) do que em outras (litoral). Por conseguinte, selecionámos quatro regiões – Açores, Baixo Alentejo, Beira Baixa e Região de Lisboa – com níveis contrastantes de declínio da fecundidade e de perfis socioeconómicos. De igual modo, as clivagens sociais são tidas em conta, uma vez que o posicionamento social está fortemente relacionado com as condições de vida dos indivíduos, especialmente em tempos de crise.

O terceiro objetivo consiste em promover o debate público em torno questões envolvendo atores políticos, grupos de interesse e famílias. Os efeitos a longo prazo da baixa fecundidade nas famílias e nas sociedades (e.g., o envelhecimento da população e seu impacto na coesão social entre gerações) é uma questão que tem sido colocada de forma recorrente na agenda das políticas públicas. Nos últimos anos, a promoção da natalidade e o suporte à parentalidade têm constituído áreas designadas de intervenção política.

 

Figura 2 – Taxa de Variação do ISF – Portugal e NUTS I e II, 2001-2014

Fonte: PORDATA / INE (elaboração própria)

Contudo, as políticas de apoio à parentalidade em Portugal, tal como noutros países europeus aliás, concentraram-se principalmente nas famílias desfavorecidas e na pobreza, prosseguindo uma atuação altamente normativa de apoio às famílias. Abordagens da política social têm enfatizado a necessidade de ir além de um modelo único de parentalidade moderna, integrando as perspetivas dos jovens adultos e a diversidade de perspetivas e práticas de parentalidade. A partir da articulação de pontos de vista – pais e mães, decisores políticos e grupos de interesse -, o projeto pretende ampliar o entendimento sobre estas questões recorrendo de procedimentos de consulta, debate e disseminação, e contribuir com novas perspetivas baseadas na evidência para a política pública.

Imagem de Kelly Sikemma (Unsplash.com)

Metodologia

Para atingir os objetivos enunciados, o projeto propõe um desenho de pesquisa baseado numa metodologia mista, na qual se combinam abordagens extensivas/quantitativas, com abordagens intensivas/qualitativas e com a disseminação/produção de recomendações políticas.

A primeira abordagem baseia-se na análise demográfica de microdados dos nascimentos e de dados secundários, tendo em vista a identificação de perfis sociodemográficos nos dois grupos de coortes de nascimento (1970-74 e 1980-84). Pretende-se ainda analisar indicadores estatísticos de âmbito nacional e regional, de forma a apreender as tendências socioeconómicas, demográficas e familiares ao longo da última década, retratando a vulnerabilidade económica, as tendências do mercado de trabalho e a mudança familiar nos dois grupos de coortes e nas quatro regiões.

Parcerias/Equipa

O projeto PARENT está a ser desenvolvido no quadro da parceria entre o ICS-ULisboa, enquanto instituição proponente, o CIDEHUS-UÉvora, enquanto instituição participante, e a UAçores e a UBI, como instituições associadas. Para dar conta do âmbito regional e multidisciplinar do projeto, a equipa reúne investigadoras com experiências de investigação em áreas complementares da sociologia, da demografia e da política social, e das quatro instituições, cada uma delas implantada numa das regiões em estudo:

Évora

Maria Graça Magalhães:
  
Filipa Cachapa:
http://filipaccachapa.blogspot.com/p/publicacoes.html

 

 

Covilhã

 
 Filomena Matias dos Santos: 
 
Maria Luísa Félix
 
 

Imagem de Kelly Sikemma (Unsplash.com)

Financiamento

 O projeto PARENT – Procriação e Parentalidade em contexto de baixa fecundidade, mudança familiar e crise económica foi submetido à FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, no âmbito do Concurso para Projetos de IC&DT em todos os Domínios Científicos 2017, e é financiado por fundos nacionais (PTDC/SOC-SOC/29367/2017).