Tempo
|
Henrique Raposo
Opinião de Henrique Raposo
A+ / A-

Nem ateu nem fariseu

Porque é que tantos homens abandonam as mulheres quando estas têm cancro?

28 fev, 2020 • Opinião de Henrique Raposo


“Ser homem” passou a ser sinónimo de fugir de namoros, de casamentos, de responsabilidades. Claro que este culto da evasão transformou os homens em criaturas que não suportam momentos difíceis. Para o homem só existe “realização pessoal” e prazer sexual. A família não é com ele.

Costumo dizer que o feminismo fez de mim um homem. Não é ironia. Foi o feminismo que fez de mim um homem de família, um homem que defende os seus, os seus pais, os seus filhos, o seu casamento, a sua mulher, um homem enquanto ser moral que se eleva acima da biologia, um homem à John Ford que se coloca abaixo dos outros, um homem que diz, A man’s gotta do what a man’s gotta do! Sim, em 2020, chegar à decência masculina (e máscula) de John Ford e John Wayne implica passar pelo feminismo, pois só por este caminho chegamos à decência familiar. O caminho alternativo, a narrativa ainda vigente para os homens, é a celebração de uma eterna adolescência que coloca a masculinidade em rota de colisão com a família.

A alegada revolução sexual e dos costumes deixou-nos uma sociedade ainda mais marialva do que a anterior. No passado, tínhamos pelo menos um ethos de responsabilidade. Contra corrente, ainda fui educado neste ethos à Bruce Springsteen. A educação que os meus pais me deram tem como guião a música "The River", Se engravidares alguém, tens de ser homenzinho! Ou seja, se engravidasse uma rapariga, eu teria de assumir as minhas responsabilidades, teria de começar a trabalhar para pôr comida na mesa. Fugir ou forçar o aborto seria visto como uma desonra. Só que esta moral conservadora (e operária) que me educou já estava em minoria nos anos 90 e agora parece que desapareceu por completo.

A figura do pai foi sacrificada no altar de uma noção de masculinidade que prende os homens numa eterna adolescência. Através do rap, de hollywood, do pop, do rock, das séries, das novelas, dos workshops académicos sobre modernidade líquida, foi criada uma sociedade que, ao destruir a família, deu carta branca à libido masculina. “Ser homem” passou a ser sinónimo de fugir de namoros, de casamentos, de responsabilidades; “ser homem” passou a ser sinónimo de saltitar de prazer em prazer. Claro que este culto da evasão transformou os homens em criaturas que não suportam momentos difíceis. Neste contexto de eterna adolescência masculina, os seres mais frágeis e histéricos não são as mulheres, são os homens. Para o homem só existe “realização pessoal” e prazer sexual. A família não é com ele.

Querem um exemplo? Segundo alguns estudos, o divórcio é seis vezes mais frequente quando elas ficam doentes com cancro. Seis vezes mais. Ou seja, quando os homens adoecem, elas ficam. Quando as mulheres adoecem, muitos homens fogem. Como homem, sinto vergonha deste retrato do homem dito moderno. É um retrato miserável. É um retrato de uma sociedade onde os homens não são homens, são meninos que só querem saber do prazer e que, por isso, desertam nas horas difíceis. Os homens fogem, literalmente. A tal crise de valores é, antes de tudo, uma crise dos homens, da masculinidade, da figura do pai e do marido. É uma pena que tantos sectores católicos não compreendam isto. É uma pena que tantos sectores católicos continuem a associar a “crise de valores” ao “papel da mulher”. Não, o problema não está na educação das mulheres, está na deseducação dos homens.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Deadpixel
    05 ago, 2020 Lisboa 12:47
    São tantos absurdos que não sei nem por onde começar. A moral de ter responsabilidade não vale para mulher? Só para o homem? Isso quanto a ter filho? A responsabilidade de pôr o que comer é dos dois, salvo se a sua mulher aceite a condição de dona de casa, o que acho bem raro nos dias de hoje. As pessoas adoram citar "segundo um estudo isso, segundo um estudo aquilo", que estudo? Segundo o estudo que me convier eu posso apontar que as mulheres que casam com pessoas 20-30 anos mais velhas e aguardam pacientemente a morte delas para receber sua gorda pensão, fruto de anos de trabalho do homem. Aliás, é isso que vc define como família? Se você canta aos bons ventos que se definiu como homem com o feminismo consigo apenas enxergar que esta muito longe da luz, meu amigo. Um homem não se define pelo movimento de outros, mas por si mesmo, essa tolice que esta a pregar aqui pode lhe ser útil para conviver com seus atos mas em nada ajuda essa tal ditadura que vivemos, em que os homens são meros tolos que acreditam em contos de fada, mulheres que serão boas esposas e dedicadas.
  • Ziz
    26 abr, 2020 Lisboa 21:05
    A mulher deixar o homem doente?Há sempre excepções mas por regra não deixa. ..
  • Adélio Pequenino
    01 mar, 2020 16:53
    A sagrada escritura, no seu antigo testamento, diz: homem e mulher deixam seu pai e sua mãe . E, os dois, serão um só. Deus também fez um contrato com Abraão, o primeiro crente. Também o homem e mulher, quando se unem, fazem um contrato, um juramento. Dizem : amar- se e respeitar - se na saúde e na doença, todos os dias da sua vida. Ora , quem viola o contrato não se pode considerar pessoa feliz. " O título ", que o Historiador Henrique Raposo deu ao texto, diz tudo. Ele diz: nem ateu nem fariseu . De facto , O verdadeiro Cristão deveria ser um homem exemplar, mas não o é. Eu costumo dizer que o nome fariseu significa : farinha de ateu. Ou seja, o mesmo que ateu. O poder politico podre consegue conspurcar e distrair os cérebros dos bispos e padres. Transformou - os em comerciantes, em carpideiras. E estes doutos distraídos, com a boca cheia, não conseguem conduzir o rebanho de Deus para que eles saibam, nas urnas, encaixotar os semeadores de joio que teimam em querer construir um mundo sem ética, sem moral, sem religião e sem Deus. Eu costumo dizer que o bem mais precioso que Deus fez nascer no mundo foi a mulher, em tudo, em tudo, até no seu odor. Quem despreza ou mal trata , também ofenda e maltrata Deus. Fique descansado, caro HR, Deus, a seu tempo, Deus vai reenviar ao mundo o profeta Malaquias. E, de seguido, um novo Cristo. Os cegos vão voltar a ver para afastar da governação das Nações os semeadores de joio. Bem haja. Stº domingo.
  • Francisco
    01 mar, 2020 Porto 13:42
    Também conheço vários casos de mulheres, as quais abandonam os homens, quando os mesmos estão doentes ou carenciados
  • voto em branco
    01 mar, 2020 largo do rato 00:37
    o tal "estudo" amostrou apenas hospitais americanos, por isso homem, vai dar o sermao prá RR dos EUA e nao extrapoles o sermao para o macho tuga
  • voto em branco
    01 mar, 2020 largo do rato 00:31
    "segundo um estudo" diz ele. qual estudo caramba? eu também estudei e segundo o meu estudo ha 6x mais mulheres a abandonar homens falidos do que o contrário...
  • Jorge Norberto
    29 fev, 2020 22:03
    É a opinião dele. Mas muito enviesada, especialmente quando fala do sacrifício da figura do pai, mostra que não faz ideia nenhuma (ou não quer fazer) do está propriamente a falar. Aquilo que ele acusa muitos rapazinhos que nunca chegam a ser homens, é também produto de uma frenética ideia de que as mulheres sozinhas podem fazer tudo e ser pai e mãe. Não... Não conseguem, tal como um homem sozinho não consegue. Ambas as partes são necessárias para preenchimento de funções que cada um dos lados está mais predisposto natural e biologicamente. Muitos destes homens que têm agora vinte e muitos , trintas, foram criados sem uma figura masculina que lhes incutisse sentido do que é "ser homem", de como agir, de como enfrentar as agruras. Numa época em que se louva sempre o feminismo e se achincalha a masculinidade é preciso pensar que há sempre dois lados de cada uma destas duas moedas. Se a masculinidade tem a sua parte tóxica (rapaz tirano) tb tem a sua parte boa ( rei sábio ). Tal como o feminimo tem a sua parte tóxica (bruxa má) e a boa (rainha benevolente) Porque no deve e haver, há culpas no cartório de ambas as partes, pois se as crianças crescem sem uma figura paterna há sempre várias razões para isso e muito raramente estão apenas e só de um lado. Temos aqui pano para mangas, dava jeito é que deixassem de tomar partidos e vissem as questões de frente, como elas são, sem rodeios e sem medos de ferir susceptibilidades.
  • Luis soares
    29 fev, 2020 Lisboa 19:59
    Um título excelente e que só por si merece os parabéns. É um tema muito pouco abordado e, quando o é, é sempre numa perspetiva ingénua, catastrófica, diabolizante ou, para ser mais diplomático, muito incompleta e desviante, como é o conteúdo deste artigo. Há exemplos para tudo e é claro que há homens que viram de imediato as costas face a um cancro da mulher, mas este é um problema tão complexo, com muito mais consequências e implicações familiares, psicológicas e sociais que a cardio-toxicidade dos tratamentos. Por ex. O nível de desgaste emocional do casal é certamente mais brutal ainda quando o apoio familiar ou de amigos é inexistente. E o desespero e a impotência leva a situações extremas... e o apoio psicológico para a mulher e casal vai sendo algo mais acessivel mas é ainda muito limitado e nem sempre há a melhor preparação profissional.
  • Pedro Alves
    29 fev, 2020 16:55
    Passou-se, coitado. Dizer que "chegar à decência masculina (e máscula) de John Ford e John Wayne implica passar pelo feminismo" não é normal.
  • Manuel Canaveira
    29 fev, 2020 Queluz 16:21
    Os tribunais de família desconsideraramdurante anos a paternidade, dando todo opoder às mães. Os media acusam-nos todos os dias de serem os culpados pela violência familiar, como se o fenómeno fosse unilateral e não houvesse violência psicológica feminina. Os homens abandonamasmulheres quando elas têm cancro, mas não nos dizem quantas mulheres fazemo mesmo aos homens (eu conheço casos e não são poucos) eassimpor diante. Perante tudo isto a nova geração de homens tornou-se MGTOW, a sua maioria de forma inconsciente. Isso éum problema social? Resolvam--no, feministas,f3ministos, LGBTI e toda a demais tropa fandangaqueanda a desfilar pelas avenidas reais e virtuaisdeste mundo.