07 abr, 2022 - 23:09 • André Rodrigues
Está a degradar-se a cada dia a situação no leste da Ucrânia, numa altura em que tudo aponta para que o exército russo esteja a preparar-se para uma ofensiva intensa para assumir o controlo de toda a região do Donbass.
Esta quinta-feira, um bombardeamento da aviação russa junto a uma estação de caminhos de ferro em Donetsk terá impedido a saída de três comboios humanitários.
No centro de Donetsk, a calma aparente sentida desde o início da guerra tem sido sacudida por bombardeamentos do exército ucraniano que tenta anular o domínio por parte dos separatistas pró-russos.
Em declarações à Renascença, a partir de Donetsk, Denis Oriel, um cidadão ucraniano que vive em Portugal, mas que se encontra retido em solo ucraniano desde o início da guerra, conta que os bombardeamentos têm sido mais frequentes, até no centro da capital da república popular com soberania reconhecida por Moscovo.
Foi o que aconteceu na passada terça-feira: “estava sentado no meu quarto, e vi um míssil a rebentar a 200 metros da minha casa. Frequentemente, ouve-se o barulho da artilharia. Em meados de março, houve um ataque, lançaram um míssil balístico que rebentou no centro da cidade e matou pelo menos 25 pessoas. Portanto, agora, a situação está mais grave do que estava”, conta.
O agravamento da situação de segurança em Donetsk começa a ter consequências no abastecimento de produtos essenciais.
Denis Oriel diz que, nesta fase, a água é um bem cada vez mais raro nas torneiras da cidade.
“A cada 72 horas aparece a água, só de noite, e por muito pouco tempo, uma ou duas. Mas isso é cada vez mais raro. Já não temos água há quatro dias”, revela.
Este ucraniano acrescenta que as milícias separatistas “começaram a distribuir água do rio local, as pessoas podem ir com baldes e garrafas de água. A minha mãe já trouxe alguns baldes com água do rio. Há quatro dias choveu e fomos apanhar água com baldes”.
Nos últimos dias, o Governo ucraniano tem apelado às populações do Donbass para que saiam o quanto antes da região do Donbass, avisando que se a zona for atacada pelo exército russo a retirada será muito mais difícil.
Denis Oriel lamenta não estar abrangido por esse aviso, uma vez que de destina a quem vive no Donbass, “mas nas zonas ainda controladas pelo exército ucraniano. Eu estou em Donetsk. Não se aplica a mim”.
Ucrânia
O secretário da Defesa norte-americano pareceu rec(...)
À pergunta ‘como vai fazer para sair antes que a guerra se agrave?’, Denis Oriel responde que só lhe resta ter “paciência” e continuar a esperar em casa, para escapar ao recrutamento forçado pelas forças separatistas para ir combater o exército de Kiev.
Ainda assim, Denis diz não ter medo. E garante que tem um plano para sair de Donetsk “dentro de pouco tempo”.
“O meu plano é sair quando cancelarem a mobilização dos homens aqui em Donetsk. Vou sair pela Rússia, vou para a Geórgia e, de Tbilissi, apanho um avião para a Moldávia e, da Moldávia, chego a Portugal”, conta.
Sair pela Rússia não é problema para este cidadão com passaporte ucraniano. “É a única forma: só dá pela Rússia, porque não há caminho nenhum entre esta república de Donetsk e a Ucrânia, desde março de 2020”.
A prioridade é regressar a Portugal o mais depressa possível, o que pode acontecer em breve, se a Rússia atingir os seus objetivos militares, nomeadamente no controlo do Donbass.
No entanto, questionado sobre o que prefere que aconteça - se uma resolução rápida do conflito a favor da Rússia, ou uma guerra mais longa com desfecho favorável para o lado ucraniano - Denis Oriel não tem dúvidas: “Eu preferia que a Ucrânia conseguisse reconquistar este território e que a Rússia, finalmente, saísse daqui”.
Mas, e se isso prolongar a guerra? A esperança é de que Moscovo não consiga suportar esse esforço financeiro por muito mais tempo. “A Rússia também já gastou muitos recursos e está a entrar em crise profunda. Portanto, não sei se a Rússia está pronta para avançar para uma guerra prolongada”.
Toda a informação acessível sobre o conflito na Ucrânia chega do lado russo. Denis Oriel diz que as pessoas evitam dar a sua opinião sobre o que está a acontecer, sobretudo os mais velhos.
“As pessoas não falam muito, mas há pessoas pró-russas que vêm notícias da Rússia, portanto não acreditam no que está a acontecer na Ucrânia e têm uma opinião que é a opinião geral de Moscovo. São sobretudo idosos que não têm acesso a informação independente”, refere.
Já os que se opõem à ocupação russa “não podem fazer nada e também não podem falar muito”, para evitar tensões desnecessárias com “aqueles que, aqui em Donetsk, estão contentes, porque sentem que isto é uma forma de vingança contra a Ucrânia”.
Decisão tomada pela Assembleia Geral das Nações Un(...)