Nove meses depois da morte do marido, a viúva de Ihor Homeniúk - o ucraniano morto no aeroporto de Lisboa - não recebeu qualquer tipo de apoio por parte do Estado português. Em entrevista exclusiva à SIC, Oksana Homeniúk contou que tratou sozinha da transladação do corpo do marido e que ainda hoje tem que mentir aos filhos sobre o que aconteceu ao pai.
Filhos não sabem o que realmente aconteceu a 12 de março
As crianças, de 9 e 14 anos, acham que o pai se sentiu mal, esteve no hospital e que foi lá que morreu. Não sabem que, segundo o despacho da acusação, o pai foi agredido várias vezes por inspetores do SEF.
De acordo com a viúva, Ihor Homeniúk vinha a Portugal para se informar sobre um possível emprego e tinha ficado de lhe telefonar assim que aterrasse. Mas isso nunca aconteceu. Foi detido ainda no aeroporto e levado para o Centro de Instalação Temporária.
Os detalhes do crime
Descreve a acusação do Ministério Público que os arguidos, concretamente Luís Silva, munido com um bastão extensível, e Bruno Sousa, com um par de algemas, se dirigiram à sala onde se encontrava Ihor Homeniuk e depois de o algemarem com as mãos atrás das costas e de lhe amarrarem os cotovelos com ligaduras, "desferiram-lhe número indeterminado de socos e pontapés".
A vítima estava já prostrada no chão e os inspetores continuaram a desferir pontapés no tronco, exigindo-lhe ao mesmo tempo e aos gritos que permanecesse quieto.
"Ninguém ajudou"
Segundo a acusação, alguns vigilantes aproximaram-se da sala dos médicos e abriram a porta, tendo de imediato sido repreendidos pelo inspetor Duarte Laja, que os mandou embora, dizendo: "Isto aqui é para ninguém ver".
“Tantas pessoas o viram, sabiam o que estava a acontecer e ninguém ajudou. Ainda não consigo entender. Não era criminoso, nem terrorista, nem assassino”, lamenta a viúva, sem conseguir esconder as lágrimas.
O Ministério Público que as agressões provocaram a Homeniuk dores físicas, elevado sofrimento psicológico e dificuldades respiratórias, que lhe causaram a morte, a 12 de março.
Pelo óbito, o Governo ucraniano concede uma ajuda mensal de cerca de 100 euros à viúva, que garante não receber qualquer apoio de Portugal, revelando mesmo que foi a própria família a pagar pela transladação.
"Choro todos os dias"
“Choro todos os dias. É muito difícil em termos psicológicos e financeiros. De cada vez que oiço a palavra Portugal... fiquei com tanto ódio a este país. Não quero dinheiro nenhum, só queria que mo trouxessem de volta”, termina, emocionada.