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Vítor Poças: “As empresas não aguentam perdas anuais de 20%”

O setor tem-se aguentado apesar das perdas mas esta situação não é sustentável durante muito tempo, considera Vítor Poças, presidente da Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal (AIMMP).

Negócios 18 de Novembro de 2020 às 12:00
Vítor Poças exibe o prémio obtido em 2019 pela AIMMP na categoria de setor estratégico. DR
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"2020 será o primeiro dos últimos dez anos em que não teremos crescimento das exportações. Realmente é uma tragédia!", afirmou Vítor Poças, presidente da Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal (AIMMP). "Com as ajudas no lay-off, nas moratórias e outros projetos pontuais de financiamento, as empresas estão a aguentar, mas obviamente esta situação não é sustentável por muito mais tempo. As empresas não aguentam perdas anuais de 20% dos seus volumes de negócios sem fortes apoios ou sem procederem a grandes cortes nas suas estruturas de custos, pelo que os resultados vão cair com toda a certeza", explicou o dirigente associativo e empresário.

Felizmente este setor tem-se aguentado, ainda que obviamente com perdas consideráveis. Vítor Poças
Presidente da AIMMP 
Assinalou que a impossibilidade de realização de feiras internacionais e outras ações coletivas de promoção é mais um obstáculo ao desenvolvimento deste setor que "cresceu mais de 1.000 milhões de euros de exportações nos últimos nove anos. Um verdadeiro ‘case study’ em Portugal. O modelo de negócio está a passar pelo aumento do marketing digital, vendas online, melhoria contínua do design e certificação dos produtos".

"De uma maneira geral todos os setores de atividades tiveram impactos negativos na sua produção e nas vendas e, designadamente, nas exportações. Felizmente, ao contrário de muitos outros setores com impactos bem mais marcantes, este setor tem-se aguentado, ainda que obviamente com perdas consideráveis", referiu Vítor Poças.

Entre as mais de 6 mil empresas do setor, as mais afetadas com o impacto da pandemia de covid-19 foram as de fabricantes de mobiliário, colchoaria e iluminação. As restantes, mais dependentes da construção civil ou de clientes industriais que utilizam os seus produtos para novas transformações, não foram tão afetadas. As indústrias de madeira e as suas obras perderam sempre muito menos do que as restantes.

A escalada da recuperação

Em termos numéricos e relativamente às exportações, que representam mais de 70% da produção total deste setor, os meses de abril e maio de 2020 foram realmente muito maus, com perdas acumuladas de 19% nas exportações do setor em abril, com destaque para as perdas no mobiliário que ascenderam a 24%. A situação ainda se agravou em maio, com perdas acumuladas no setor de 26%, e de 30% no mobiliário, relativamente ao período homólogo de 2019. A partir de junho, o setor iniciou uma rápida recuperação, alcançando perdas acumuladas em junho de 24%, de 20% em julho e de apenas 18% em agosto, mantendo-se esta escalada positiva de recuperação também em setembro e outubro de 2020.

Em termos de exportações em 2019, o subsetor do mobiliário, incluindo a colchoaria e a iluminação, liderou as exportações do setor com um volume de 1,88 mil milhões de euros, seguido da madeira e obras de madeira com cerca de 700 milhões de euros num total de 2,58 mil milhões de euros, para um volume de negócios total de 3,7 mil milhões de euros. Entre janeiro e agosto de 2020 as exportações atingiram quase 1,4 mil milhões, menos 18% do que em igual período de 2019. A União Europeia absorve cerca de 81,5% das exportações de madeira e mobiliário.

Esta associação tem a sua origem em 1957 e representa as empresas desde o abate e o corte das árvores na floresta até à sua transformação e comercialização, incluindo uma grande tipologia de indústrias e produtos. Está organizada em cinco divisões por subsetores como o abate, corte, serração de madeiras e embalagens, os painéis, derivados de madeira e energia de biomassa, a carpintaria e outros produtos de madeira, o mobiliário e afins e a exportação, importação e distribuição de madeiras.

A AIMMP conta com 700 associados, e além do tradicional apoio associativo e da representação institucional junto de várias confederações nacionais e internacionais, tem um papel no Centro de Formação Profissional das Indústrias da Madeira e Mobiliário, ou no apoio à qualificação, à certificação, às exportações e à internacionalização através dos projetos Inter Wood & Furniture, do Associative Design - The best of Portugal, Sector Wood & Furniture, Eco Wood & Furniture.

"Estas ações têm como principais objetivos reforçar as capacidades competitivas do setor, a imagem e a notoriedade das empresas e da fileira da madeira e do mobiliário de modo a facilitar as exportações, bem como promover Portugal enquanto país moderno, com um setor industrial que alia a tradição e o saber-fazer à criatividade, qualidade, design, inovação, sustentabilidade e tecnologia avançada", concluiu Vítor Poças.


No fim desta crise, Portugal vai estar pior do que estava

Este modelo de economia não é sustentável e mesmo a "bazuca" vai ser insuficiente para tapar o buraco do Estado, quanto mais para recuperar os "cacos" das empresas e setor produtivo, defende Vítor Poças.

Com a segunda vaga da covid-19 a varrer Portugal, a Europa e o mundo, as indústrias de madeira e de mobiliário sentem dificuldades em cumprir os prazos de entrega das encomendas. Segundo Vítor Poças as principais razões são "a falta de mão de obra condicionada pelas medidas restritivas aplicadas à pandemia, a redução da produção por quebras nas linhas de fabricação com esse absentismo e também uma redução de encomendas internacionais ou negociação muito mais curta no tempo de tal forma que as empresas estão a negociar encomendas com prazos de entrega mais curtos".

Mas os contratempos provocados pela pandemia não impediram que a Associative Design, criada em 2016 pela AIMMP, estivesse presente num dos certames de referência mundial de mobiliário e design, a Dubai Design Week.

As folhas do calendário aproximam-se de 2021 e "todos gostávamos de saber as perspetivas para o próximo ano, mas ninguém sabe", diz Vítor Poças. Para o líder da AIMMP, as principais condicionantes são, primeiro, como é que vai ser feita a resolução do problema da covid que pode surgir pela vacina como pelo tratamento eficaz.

Em segundo lugar, é preciso compreender como é que a economia mundial vai reagir e se vai comportar aos problemas provocados pela manutenção da situação pandémica se a situação se mantiver por muito tempo, sobretudo na Europa que é um destino preferencial das exportações deste setor.

O terceiro fator tem a ver com a visão crítica de Vítor Poças. Considera que "o nosso país está objetivamente falido e, obviamente, quem pior está mais dificuldades vai ter em se levantar, isto é, quando Portugal estiver ao atual nível, muitos outros já recuperaram e estão a crescer há muito tempo".

Na sua opinião quando a pandemia de covid-19 for vencida, Portugal estará ainda pobre relativamente a muitos outros, "de resto como tem acontecido nos últimos cinco anos sem que muitos queiram ver". Acrescenta que "o modelo de economia que temos fomentado não é sustentável sem viver da esmola europeia e mesmo essa ‘bazuca’ de que falam é absolutamente insuficiente para tapar o buraco do Estado, quanto mais para recuperar os ‘cacos’ das empresas e setor produtivo deixados pelos impactos negativos da pandemia. Portanto, a perspetiva é de incerteza, mas com a certeza de que no final desta crise, Portugal estará muito pior do que estava relativamente a muitos outros do nosso campeonato".

Candidaturas estão abertas Estão abertas as candidaturas à 10.ª edição dos Prémios Exportação e Internacionalização, que é uma iniciativa do Jornal de Negócios e do Novo Banco em parceria com a Iberinform Portugal, com o objetivo de promover o sucesso das empresas nacionais nas exportações e nos negócios internacionais, sobretudo num ambiente recessivo provocado pela pandemia e a quebra da economia. A retoma progressiva da economia nacional e a melhoria da sua competitividade neste quadro de pandemia dependem em muito do incremento da capacidade exportadora e da aposta na internacionalização das empresas portuguesas. Os Prémios Exportação distinguem as empresas com melhor performance exportadora, enquanto nos Prémios Internacionalização se premeiam os casos de sucesso na internacionalização, e serão entregues numa cerimónia a realizar a 3 de dezembro de 2020. https://cofinaeventos.com/premioexportacaoeinternacionalizacao/
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