As verdades e mentiras na “nuvem de covid” de Djokovic

Djokovic parece rodeado de cenários condenáveis: ou foi adulterado um teste positivo à covid-19 para poder viajar para a Austrália, ou andou em público várias vezes sabendo que tinha covid-19. Em qualquer dos casos parece ser uma bota difícil de descalçar.

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Djokovic já no Melbourne Park, na Austrália Reuters/POOL

O PÚBLICO escreveu nesta segunda-feira que Novak Djokovic estava a vencer a Austrália por 40-30, num jogo figurado para saber se pode ou não participar no primeiro torneio do Grand Slam do ano. Nesta terça-feira, nada garante que o sérvio vá “fechar o jogo” e evitar o 40-40 que dará mais capítulos a esta novela.

A imprensa internacional tem-se desdobrado em investigações sobre a veracidade dos documentos e informações apresentados por Novak Djokovic em todo o processo. O Der Spiegel e o New York Times alertaram mesmo que o próprio teste positivo à covid-19 pode ser verificado por um código QR errático, que ora remete para um resultado positivo, ora para um negativo, confirmação digital que qualquer pessoa pode experimentar fazer (foto e código QR em baixo).

Restam, portanto, duas hipóteses: um cenário em que Djokovic teve covid-19 em Dezembro e esteve em público sem pudor – quebrando as regras, em vigor na Sérvia, que impõem 14 dias de isolamento –, e um outro em que o sérvio afinal não teve covid-19 e, nesse caso, usou um teste positivo inexistente para justificar a falta de vacina às autoridades australianas.

Em suma, Djokovic parece rodeado de cenários condenáveis: ou foi adulterado um teste positivo à covid-19 ou foi quebrado o isolamento de um infectado com covid-19. Em qualquer dos casos parece ser uma bota difícil de descalçar para o número um do ranking.

Com ajuda da BBC, que teve acesso a documentos apresentados às autoridades, estes são os factos apurados até agora:

16 de Dezembro: teste de covid positivo

Este documento apresentado pelos advogados de Novak Djokovic remete para o teste positivo à covid-19 cujo resultado foi conhecido por volta das 20h do dia 16 de Dezembro. Djokovic tinha feito o teste ao final da manhã, mas a incerteza quanto ao resultado não o impediu de ir a uma cerimónia durante a tarde.

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17 de Dezembro: mais uma aparição pública

No dia 17 de manhã, data em que teoricamente Djokovic já teria conhecimento da infecção por covid-19, a associação de ténis de Belgrado avançou que o tenista participaria numa entrega de prémios a jovens talentos e publicou, mais tarde nesse dia, fotos do tenista nesse evento.

18 de Dezembro: entrevista no L’Équipe

O L’Équipe garante que Djokovic esteve numa sessão fotográfica no jornal a 18 de Dezembro – e há fotografias do momento.

22 de Dezembro: teste negativo à covid-19

Nos documentos apresentados por Djokovic há a referência a um teste negativo à covid-19 feito a 22 de Dezembro. Ainda assim, as regras sanitárias em vigor na Sérvia ditam que o jogador teria de estar em isolamento até dia 30, em virtude do teste positivo do dia 16.

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25 de Dezembro: mais uma aparição pública

Djokovic foi visto a jogar ténis em Belgrado no dia de Natal e há várias fotos do momento.

31 de Dezembro: ida a Espanha

A Soto Tennis Academy publicou um vídeo de Djokovic a jogar ténis em Marbella, preparando-se para o Open da Austrália. Há também fotos do jogador com fãs.

5 de Janeiro: chegada à Austrália

O visto para entrar no país foi conseguido fruto de um teste positivo à covid-19 – nesse caso, Djokovic estaria dispensado da vacinação por estar no período de recuperação pós-covid. O jornal alemão Der Spiegel aponta, porém, para informações técnicas de informática que garantem que o teste positivo de 16 de Dezembro foi adicionado ao sistema depois do teste negativo de 22 de Dezembro – e esse teste positivo seria, afinal, de dia 26, algo que prolongaria muito mais o período de isolamento, hipotecando a viagem para a Austrália no dia 5.

Mais: para entrar no país, Novak Djokovic garantiu que não tinha viajado nos 14 dias anteriores, algo que as imagens comprovam ser falso.

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