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Junte-se ao Dia Mundial da Meningite - 24 de abril de 2021

Meningite aguda

O que é?
É uma inflamação das meninges (as membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal), que resulta de uma infeção.

Quais são os microrganismos que a causam?
É habitualmente causada por vírus e por bactérias e, mais raramente, por fungos ou parasitas.
Os vírus mais frequentemente identificados são os enterovírus. Nos últimos anos, avanços nas técnicas de diagnóstico, nas quais se inclui a biologia molecular, têm permitido identificar mais facilmente vírus, tais como parechovírus. 
As bactérias que causam meningite variam com a idade: no período neonatal (primeiro mês de vida) predominam Streptococcus do grupo B, E. coli e outras bactérias gram negativas, e Listeria monocytogenes; depois, passam a ser mais comuns o pneumococo e meningococo.

Qual é a incidência? 
A incidência varia com a idade, sendo mais frequente nos primeiros anos de vida, e varia também com as regiões do mundo e com o acesso às vacinas. Esta incidência reduziu muito ao longo das últimas décadas após a introdução de várias vacinas, nas quais se incluem vacinas contra Haemophilus influenzae tipo b, meningococo C, pneumococo (7 valente, 10 valente, 13 valente) e mais recentemente contra meningococo ACWY e B. Neste ano de pandemia por SARS-CoV-2 houve uma redução importante de algumas doenças infeciosas, provavelmente, ou pelo menos em parte, devido às medidas de confinamento e de distanciamento físico, à utilização de máscaras e higienização frequente das mãos. No entanto, isto não significa que estas doenças tenham desaparecido.

Como é que se manifesta?
As manifestações clínicas mais frequentes são febre, cefaleias, irritabilidade, vómitos, prostração ou sonolência, gemido, rigidez da nuca e convulsões. Em algumas situações estão presentes lesões na pele (exantema). Nem sempre estão presentes todos estes sinais e sintomas.

Como é que se faz o diagnóstico?
O diagnóstico baseia-se na história clínica, no exame físico e nos resultados dos exames laboratoriais, nomeadamente do líquido cefalorraquidiano. Para além dos métodos de diagnóstico classicamente utilizados, como o exame citoquímico e cultura do líquido cefalorraquidiano, atualmente as técnicas de biologia molecular têm permitido obter resultados, num curto espaço de tempo, para um painel extenso de vírus e bactérias. Estes resultados, em conjunto com outros exames laboratoriais e com a avaliação clínica, permitem, em alguns casos, ajustes terapêuticos mais rápidos. Permitem também a identificação de bactérias quando a antibioterapia é iniciada antes da realização da punção lombar e nas quais a cultura poderia já ser negativa. Adicionalmente, ajudam na tomada de decisões mais rápidas no que respeita à quimioprofilaxia de contactos e à instituição de medidas de controlo de infeção no hospital. Uma limitação destas técnicas é ainda não permitir a avaliação das resistências aos antimicrobianos.

Como é que se trata?
As meningites causadas por vírus tratam-se com medidas para aliviar os sintomas, como por exemplo paracetamol. Em alguns casos há tratamentos específicos contra o vírus, como acontece por exemplo com o vírus herpes. A meningite causada por bactérias trata-se com antibióticos. Por vezes, são necessários fármacos de suporte, no caso de mau funcionamento de outros órgãos como consequência da infeção.
Para algumas meningites bacterianas, há indicação para fazer profilaxia com antibióticos aos contactos próximos.

Qual é a gravidade?
A meningite por enterovírus habitualmente tem resolução rápida e bom prognóstico. Mas há outros vírus, como por exemplo o vírus herpes, que pode causar meningoencefalite, habitualmente com gravidade e elevada percentagem de sequelas.
As meningites causadas por bactérias apresentam-se muitas vezes com quadros clínicos graves e, em alguns casos, podem levar à morte ou deixar sequelas nomeadamente de neurodesenvolvimento e surdez.
A meningite é uma emergência médica. O diagnóstico e tratamento atempados e adequados são muito importantes, mas, mesmo quando tal acontece, pode associar-se a mortalidade e a sequelas graves.
Para a gravidade da doença podem também contribuir as características do indivíduo e do microrganismo envolvido.

O que fazer se houve contacto em casa ou na escola/infantário com uma criança com suspeita de meningite?
Se se confirmar o diagnóstico de meningite, o Delegado de Saúde contactará com indicações do que deve ser feito, dependendo do microrganismo identificado. 

Como é que se pode prevenir?
A prevenção pode ser feita através da vacinação, mas não há vacinas disponíveis para todos os microrganismos que podem causar meningite.
Por exemplo, não existem vacinas disponíveis para prevenir contra a meningite causada por enterovírus, pelo vírus herpes, pelo Streptococcus do grupo B, E. coli e Listeria monocytogenes.
No Programa Nacional de Vacinação (PNV) português estão incluídas vacinas que protegem contra algumas meningites. São exemplos as vacinas contra Haemophilus influenzae tipo b, pneumococo e meningococo dos grupos B e C.
Há vacinas que protegem contra meningite causada por outros microrganismos que ainda não estão incluídas no PNV, tais como a vacina contra meningococo dos grupos A, W e Y.
Há 12 tipos (grupos) de meningococo, que se classificam com base na cápsula da bactéria. A maioria dos casos de doença são causados pelos grupos A, B, C, W, Y e X. O(s) grupo(s) predominantes variam ao longo do tempo e podem ser diferentes entre continentes e mesmo entre países. Na Europa, na última década, tem predominado o grupo B e nos últimos anos observou-se um aumento do grupo W em vários países. Em Portugal, o número de casos tem sido pequeno, mas assistimos a um ligeiro aumento do grupo W nos últimos dois anos, em particular nas crianças de baixa idade. Como consequência, vários países europeus introduziram a vacina conjugada contra meningococo ACWY nos seus programas vacinais.
A meningite causada pelo meningococo associa-se frequentemente a sépsis (infeção generalizada com envolvimento de vários órgãos). As manifestações clínicas iniciais podem ser inespecíficas, tais como febre, irritabilidade, prostração (sonolência), às quais rapidamente se juntam manchas na pele, de cor rósea-vermelha, evoluindo para cor roxa. Muitas vezes apresentam pés e mãos frias. Pode haver vómitos. As crianças mais velhas podem queixar-se de dores de cabeça e apresentar dificuldade em fletir a nuca. Qualquer dos tipos de meningococo pode causar quadros graves e letais. Por vezes, dentro de um grupo, surgem estirpes mais agressivas, causando quadros de maior gravidade e sendo responsáveis por mortalidade mais elevada.

Qual é a idade em que as crianças devem ser vacinadas? 
A maioria das meningites ocorre nos primeiros anos de vida, em particular no primeiro ano de vida, pelo que haverá benefício em vacinar o mais cedo possível. No entanto, crianças mais velhas também poderão ser vacinadas. A maior parte das vacinas estão licenciadas para administração a partir dos 2 meses de idade.

Em relação às vacinas ainda não incluídas no PNV, quais são as questões que os pais colocam?
As questões mais frequentes são acerca dos riscos que a criança tem de contrair a doença, quais as consequências possíveis a curto e a longo prazo, se a vacina protege adequadamente, qual é a duração da proteção, qual é a possibilidade de ser dada com as outras vacinas e os seus custos.

Quais são as vacinas recomendadas pela Comissão de Vacinas da Sociedade de Infeciologia Pediátrica (SIP) e da Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP)?
Para além de reforçar a importância do cumprimento do PNV, a Comissão de Vacinas da SIP-SPP elabora periodicamente recomendações sobre vacinas disponíveis, mas ainda não incluídas em PNV.
A Comissão faz uma análise detalhada da evidência científica mais atualizada, que inclui as caraterísticas da doença, a epidemiologia (bactérias ou vírus em circulação, grupos etários mais atingidos), a forma como as vacinas atuam, a sua segurança e duração da proteção e a experiência da sua utilização noutros países.
Estas recomendações têm um caráter individual e a Comissão propõe que seja apresentada e discutida com os pais a utilização de cada vacina, tendo por base a evidência científica existente.
Em setembro de 2020 foi publicada a última atualização, disponível em https://www.sip-spp.pt/media/jbsn4cvv/recomendac-o-es_vacinas_extra_pnv_sip_28setembro2020.pdf

Quais são os principais desafios? 
Os principais desafios são estabelecer o diagnóstico o mais precocemente possível, utilizar da melhor forma possível os meios de diagnóstico que temos ao nosso alcance, iniciar a terapêutica antibiótica mais adequada, quando necessária, tendo em conta as resistências aos antimicrobianos que são um enorme problema a nível mundial, e utilizar da melhor forma possível as vacinas existentes para prevenção da infeção por microrganismos que causam meningite.


Direção da Sociedade de Infeciologia Pediátrica
Fernanda Rodrigues (Presidente) I Catarina Gouveia I Amélia Cavaco I Ana Brett I Manuela Costa Alves